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sábado, 26 de abril de 2014

Mudança de Hábito: Alguma coisa (ainda) está fora de ordem!

Em Neon: sábado, 26 de abril de 2014


"A ignorância sempre foi a base do preconceito"

Queridos leitores:

Corro o risco de me repetir nessa pequena reflexão. Ela se assemelha, ou complementa, em alguns aspectos, a primeira publicação que escrevi AQUI para o EM NEON – e desde já, peço desculpas por isso; mas confesso, depois de ler o que escrevi não me dei por satisfeita (e acho que nunca vou me dar!). Enquanto algo não se resolve, deve voltar de milhões de formas, até que as posições possam ser verdadeiramente revistas. Mas prometo que na próxima participação mudo de assunto!

Depois de tantos fatos históricos que nos constituíram como humanos, continuo quebrando a cabeça para encontrar uma explicação plausível, para que muitas pessoas ainda tentem definir a qualidade dos seres-humanos, pelas escolhas ou condições de seus desejos erótico-afetivos. Essa condição de escolha heterossexual, normativa e imposta é certamente obsoleta, arbitrária e empobrece nossa raça humana. O que interessa saber quem deita com quem? Quem causa desejo em quem? A vida, sempre tão maior que isso, cobra posições muito mais relevantes que essa. Quem ampara quem? Quem escuta a queixa dolorida de quem? Qual mão se estende na hora da dor?

Conheço pessoas maravilhosas e horrorosas em todas as condições de gênero. Definitivamente isso não define afeto nem humanidade. Mas acho que quem pensa que isso define a qualidade do ser humano, se define pelo pior que há entre nós. Arbitrariedades proferidas em nome de uma moralidade hipócrita e obsoleta.

Certa vez, em uma aula de psicologia, um aluno (bem intencionado, diga-se de passagem) me perguntou se ele, como “ser humano pensante”, não tinha o direito de não aceitar a homossexualidade, desde que ele mantivesse uma postura de respeito diante dessas pessoas (homossexuais); minha resposta causou certa polêmica, pois afirmei com veemência que não, ele não tinha esse direito – poderia até sentir e pensar assim (lamentavelmente), mas do ponto de vista ético essa posição seria sempre indefensável; explico: Ninguém tem o direito de não aceitar alguém em função de sua condição de gênero – podemos sim não aceitar uma pessoa em função de seu caráter duvidoso, crueldade, ou por atitudes nocivas a outros seres vivos. Mas jamais a condição de gênero deveria ser critério para a aceitação de outrem. Pergunto-me porque essa posição indecente e desonesta ainda perdura nos tempos de pós-modernidade – difícil o avanço das consciências – temos ainda um pé na idade das trevas. 

A ignorância sempre foi a base do preconceito; a moral hipócrita ensejada por muitos pensamentos religiosos também (e aqui não há a intenção de criticar crenças, mas sim sistemas). Dessa forma, em nome da família e bons costumes, ainda se apregoa e até se incentiva o preconceito – foi no bojo da imbecilidade que se constituiu a crença de que o que se faz na cama com alguém pode definir sua qualidade humana. Desejos normatizados e autorizados pela sociedade, acabam por constituir pessoas ditas “decentes” e mais facilmente controladas e que, portanto, causarão certamente menos “distúrbios” na estrutura construída, com o intuito do controle fácil das massas. Quando se controla e normatiza o desejo, todos os outros controles ficam mais fáceis de alguma forma.

Lembremos que conduta “ilibada” é sinônimo de conduta correta, mas na verdade, ilibado quer dizer sem libido. Ou pelo menos com libido normatizada, se é que isso pode ser possível! Fica evidente, por esse simples exemplo, a visão propagada ao longo da história que o desejo e erotismo são subalternos a outros desejos e manifestações humanas.

Por isso também, o controle perverso da Igreja e do Estado constituíram regras para a implantação desse sistema de valores – muitas vezes o incentivo ostensivo ao asco por aqueles que foram denominados diferentes e desviantes, prosperou. Ainda agora, está acontecendo. Ainda agora... Que o digam todos que sofrem diariamente pequenas e grandes violências contra suas singularidades.

Que possamos falar e nunca calar diante das moralidades imbecis. Que sejamos éticos, que possamos entender que moral não é, muitas vezes, sinônimo de ética. 

No próximo encontro falo porque sou absolutamente favorável a novas constituições familiares. Incluindo adoção. Abraços carinhosos!!!

Por: Ana Kiyan

Ana Kiyan é pedagoga, psicóloga, Gestalt-terapeuta, Mestre em Psicologia Clínica e Doutora em Psicologia Social pela PUC/SP. Docente na Pós-Graduação da USJT/SP e UNESP e Supervisora do Projeto de extensão Artinclusiva da UNESP. Autora de livros em psicologia, Gestart-terapia e novas condições de gênero e sexualidade.

 
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