Você duvida? Oh! Leitor de pouca fé, então vá ver e depois me conte se a energia liberada e compartilhada nessa peça não te acompanha por horas e sabe-se lá quantos dias. É um festival de bom humor, de piadas, situações, diálogos e interações completamente divertidas, onde o que reina é a total descontração e nenhuma regra. Por sinal o que mais parece nessa peça, é que ninguém segue regra alguma e simplesmente seguem um instinto animal e libertino, que é o de levar diversão às centenas de espectadores presentes.
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Para se entender Croquetes, é preciso primeiramente se entender, se despir, se libertar de tabus ou preconceitos, abrir a própria mente, deixar que novas ideias e concepções possam invadir, ou melhor, arrombar nossas teorias do que se é permitido e o que se é censurado.
Quem vai querendo entender algo, ou buscando uma moral e até quem sabe uma estrutura comum teatral, na certa voltará frustrado, mas quem vai de alma limpa e peito aberto, volta com sensações, ritmos e até mesmo uma nova diretriz intelectual, onde o que importa é o como é feito e para que é feito e não somente como e porque.
Esse musical é a coisa mais simples, estruturalmente falando, mas é totalmente difícil e complicado, emotivamente explicando. Como eu escrevi antes, primeiramente simples e fácil, pois o cenário é feito de estruturas metálicas, acabamentos rústicos e modestos, que com toda uma eficaz concepção artística e profissional de Pedro Valério (responsável por todo o ambiente cenográfico) nos faz parecer que estamos na época da ditadura, onde o colorido e o brilhante se contrapunham com o regime político e faziam conjunto, com penas, plumas, purpurinas e paetês.

uma postura dionisíaca e como se estivessem em um frenesi, despem-se de seus trajes e ficam
perambulando, em vários momentos da peça, apenas de tapa sexo. Isso se fosse em um espetáculo qualquer assumiria um tom vulgar, distrairia a plateia da história e até constrangeria seus atores mais desatentos, mas não é o que acontece e com os figurinos de Claudio Tovar tudo toma proporções "Broadwayanas" com tamanho luxo, bom gosto e acabamentos.
Ciro Barcelos, com toda sua trajetória, conhecimento e aproveitamento do corpo e espaço, deu uma leveza e até mesmo uma infantilidade a toda nudez apresentada, que esquecemos de nossa
volúpia e passamos a olhar como arte, como apenas mais um instrumento ou um mero objeto cenográfico. Passamos a encarar com naturalidade e lembramos que a nudez se faz presente a todo momento em nossa vida e que olhar para ela com uma tonalidade pudica é o mesmo que nos sentenciarmos a um ostracismo mental e enfadonho.
Todo o elenco interage entre si, se tocam, se percebem e se apoiam, não há rivalidades ou
mesmo exacerbações egocêntricas por parte de um ou outro, o que se percebe é que todos se divertem e se ajudam, transformando toda a apresentação num circo onde eles, além de artistas, também são parte do público, uma engrenagem bem lubrificada e sincronizada. Os novatos Lucas Lima e Bruno Gissoni, que estreiam na trupe, parecem ser da antiga formação de tão livres e a vontade que se sentem ao moverem-se no palco.
A peça também tem momentos sérios, no qual são narradas as torturas, agressões e censuras que todos os artistas da época da ditadura sofreram com seus trabalhos artísticos e, principalmente, os 13 atores do Dzi da época. A emoção toma conta do espetáculo e é impossível não aplaudir toda essa apresentação.
Uma coisa que é preciso destacar e definir como um ponto forte da peça, é que tudo acontece na hora "just in time", quando o assunto é sonoplastia e sonorização. A direção musical do espetáculo é feita em cima do palco em uma cabine aberta para o excelente Demétrio Gil trabalhar e atuar. Ele se divide em vários na peça, até Chacrinha ele interpreta, provando que um profissional completo ultrapassa o tempo e gerações, quando se tem foco e responsabilidade.
As interpretações são bem definidas por cada um no palco, todos tem seu momento solo e em momentos da peça, encanto e magia afloram. Tem de tudo, sapateado, can can, flamenco, Carmem Miranda, sensualidade, erotismo, homenagens... é difícil destacar um ou outro ator, pois todos se comportam como uma equipe uníssona e acabam se transformando em um. "Um por todos e todos pela arte!"
Não poderia deixar de citar aqui a carinhosa recepção que parte do elenco e da produção, com quem tive contato previamente, tiveram comigo. Um beijo carinhoso nos corações de Leandro Melo (que também atua em Elis - A musical), Franco Kuster (atualmente em cartaz com Constellation), Thadeu Torres, Demétrio Gil, Pedro Valério e por fim, e não menos importante, o produtor Ronaldo Tasso.
Conversei com alguns atores do elenco, que me falaram como é trabalhar nesse espetáculo, que é sucesso há 40 anos:
(Leandro melo)
"Pra mim é uma honra poder participar do Dzi e ter a chance de colocar no palco a irreverência desse grupo tão singular e importante para a contracultura do nosso país. Dzi Croquettes foi, é, e sempre será um marco na história do teatro brasileiro."
(Thadeu Torres)
"É uma honra estar no palco com o Dzi e poder homenagear esse grupo!! Dzi croquettes sem dúvida é um trabalho de guerreiros e sou muito grato por fazer parte desse exército ."
(Franco Kuster)
"Fazer parte do grupo é uma honra e um grande desafio como ator, o trabalho de desconstrução é constante e nos empolga diariamente."
(Ricardo Burgos)
"Então, o Ciro me viu fazer uma aula de jazz Broadway do Kiko Guarabyra e me convidou, eu tinha apenas a noção do que era o Dzi, pois era um dos assuntos da prova do sindicato da dança há 6 meses atrás. Eu tive um apoio muito grande com o canto e o teatro nos ensaios e aconteceu tão rápido que pela manhã, quando a cabeça ainda divaga, vou lembrando de tudo e tomando uma surra de surpresas, que estou em um dos maiores palcos, cantando, atuando, dançando com pessoas incríveis, aprendendo muito com os originais, e com esse musical que faz parte da História do Brasil"
(Lukas Lima)
FICHA TÉCNICA
Concepção, texto e direção geral: Ciro Barcelos
Direção musical: Demétrio Gil
Trilha sonora: Demétrio Gil e Flaviola
Coreografia: Ciro Barcelos e Lennie Dale
Figurinos e adereços: Cláudio Tovar
Iluminação: Aurélio de Simoni
Cenografia: Pedro Valério
Direção de produção: Ronaldo Tasso
Realização: Rtasso ideias e realizações e CBX produções
SERVIÇO
Dzi croquettes
Dias: 02, 03, 09 e 10 de fev
seg e ter 21h
únicas apresentações
Sala Tereza Rachel
Ingressos: Plateia e frisas: R$ 100,00| balcão: R$ 80,00
Theatro Net Rio - Rua Siqueira Campos 143, Copacabana - Rio de Janeiro - RJ
Fone: 21 2547-8060
Fotos: Facebook do Dzi Croquetes
João é ator, cantor, mas descobriu-se crítico e aí sim viu que suas opiniões poderiam ajudar muitas pessoas a se decidirem e se descobrirem diante de assuntos dos quais ignoravam, desconheciam ou não davam importância. Participou ativamente de projetos de cinema e teatro, fez um blog de filmes temáticos LGBT. Em breve irá lançar um livro sobre como explorar bem Enredos Carnavalescos.