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terça-feira, 29 de julho de 2014

Teatro/Crítica: A Prostituta Respeitosa - Racismo, prostituição e política tecem as teias da trama de Jean-Paul Sartre

Em Neon: terça-feira, 29 de julho de 2014


Claudio Bastos e Anita Terrana interpretam dois marginalizados

A prostituta respeitosa, peça que faz parte do projeto "Sartre Mais Uma", parece estar em um nível tão elevado quanto sua parceira “Casa de Cômodos”.

Na noite de domingo (26/07), algo especial pairava sobre o ar do Teatro Solar Botafogo. Uma peça que fala sobre brancos injustiçando negros será assistida por jovens (na maioria negros) em recuperação, abraçados por uma ONG de Realengo na Baixada Fluminense. Responsabilidade triplicada para o elenco!

Tendo como tema central o preconceito, outras questões são trazidas ao palco e nos fazem olhar com um certo grau de identificação para o que é genuinamente abordado.

Thiago Detofol e Anita Terrana vivem amor inconsequente 

A prostituta (RESPEITOSA SIM!) nos leva ao encontro de uma realidade pouco imaginável, já que prostitutas são, geralmente, julgadas como pessoas sem convicções morais. Ganhar a vida suando o corpo nos torna amorais?

No papel da prostituta Lizzie, a atriz Anita Terrana empresta cada átomo amadurecido de seu corpo voluptuoso à personagem de personalidade conflitante.

O enredo do texto é curto e simples, embora as falas sejam muitas. É fácil de entender, mas não tão fácil de ser contado, imagine então, interpretado...

Na década de 40, uma prostituta, que acaba de chegar em uma pequena cidade no sul dos Estados Unidos, é envolvida em um jogo de caça ao rato. O tal “rato” é um negro (vivido por Claudio Bastos) que teria, segundo os brancos, abusado de Lizzie. O caçador é um burgues de nome desconhecido vivido por Thiago Detofol, e dele, apenas o que se sabe, que é  filho de um senador, interpretado por Sergio Fonta. O jovem e seu pai estão unidos para livrar a cara de um primo que assassinou um homem, e para isso, usarão Lizzie para culpar o negro pela morte. Para intimidá-la, um policial violento vivido por Frederico Baptista entra em cena.

A meretriz,  que o tal negro sequer a tocou, contraria o que todos pensam de alguém em sua posição social. Ela simplesmente não quer mentir. É do tipo que vê o bem na verdade. Em meio a isso tudo está o estranho e quase adolescente amor de Lizzie e do filho do senador. O rapaz foi seu primeiro cliente na nova cidade e os dois se envolvem de maneira irresponsável para dois adultos. Mas o amor nem sempre é o mais responsável dos sentimentos e talvez por isso, os dois estejam tão contrariadamente entregues à essa relação confusa. Entregas enganosas inclusas no pacote do prazer da carne ou sentimentos?

Pela honra "manipulada" de uma nação 

Daí é que surgem questões que, apesar de atemporais, hoje estão em  evidência em nosso país:
- Quem de nós nunca votou, enganado, no político mais bem vestido e melhor falante?
- O quanto nos custa, afinal, para mantermos o rótulo de "nação honrada"?
- Qualquer besteirinha do tipo "matar um negro aqui e ali" deve ser ignorada em nome do patriotismo?
- Uma mulher de meia idade, que se prostitui desde a juventude, vive disso, talvez por não ter conhecido outra escolha, seria essa falta de escolha gerada por sua falta de cultura e inteligência, já que ela sucumbe ao "palavreado bonito" de um político inescrupuloso?
Cabe ao público o julgamento "respeitoso".

Quanto ao elenco, fica difícil eleger um dos atores como destaque, pois todos estão encaixados no contexto da peça como luvas para mãos em dias frios, mas destaca-se, muito, a interpretação de Anita Terrana, completamente entregue à sua prostituta.

Direção, cenário, figurino e todos os outros detalhes fazem da peça um bom motivo para sair de casa e apreciar a arte da atuação.

Atores recebem o merecido carinho da plateia 

E sobre a plateia nessa noite? Participativa, entusiasmada e cheia de vida, tal qual o espetáculo.
Uma grande prova de que o teatro, geralmente direcionado para classes sociais mais altas, consegue, SIM, se comunicar com o povo, especialmente em um país de políticos corruptos e tantos falsos moralismos.

Recomendamos!

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Imagens: Eduardo Moraes
(www.emfotos.com.br)

Por: Maurício Code






 
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