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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Divertidíssima: Flávio Sanctum responde 'Ouro, Prata ou Lata'

Em Neon: terça-feira, 25 de novembro de 2014



Na edição deste mês temos a participação do escritor, pedagogo e professor de teatro, Flavio Sanctum (ele também é doutorando em Artes Cênicas pela UNIRIO e mestre em Estudos Contemporâneo das Artes pela UFF).  O Integrante da equipe de curingas (educador social) do Centro de Teatro do Oprimido – CTO,  trabalhou diretamente com o teatrólogo Augusto Boal e já ministrou cursos teatrais em diversos países da Europa e da América Latina, além de participar de Festivais de Teatro na França, Áustria, Palestina, Croácia, entre outros. Quer saber o que ele respondeu à nossa coluna? Confira agora essa exclusiva participação, somente para os leitores do site Em Neon!




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O propósito dessa brincadeira é dar valor a coisas, situações, lugares e pessoas.
O convidado deve dar sua pontuação da seguinte forma:

Ouro: 
Para coisas realmente
 valiosas dignas de aplausos.
Prata: 
Para coisas boas, 
mas não tão valiosas assim.
Lata: 
Para coisas sem valor,
desprezíveis, um lixo.

Confira agora as respostas de Flávio Sanctum:


ARTE-EDUCAÇÃO: OURO 
Não acredito na arte pela arte, nem da educação pela educação. Tudo tem um propósito político e quando abrimos mão ou negamos isso já é uma escolha política. Por isso creio que a arte pode ajudar muito a politizar a educação e vice versa.


AUGUSTO BOAL: OURO
Um mestre que sigo seus bons exemplos e estudo sua teoria para nunca fugir de uma prática coerente com uma filosofia inclusiva e libertadora.



CENTRO DE TEATRO DO OPRIMIDO: OURO   
Claro que valorizo a instituição que faço parte, que me ensinou a ser um artista/político. E é muito difícil manter uma lógica social nesse mundo de disputas, concorrência e crescimento a partir da desgraça do outro. É uma luta diária se manter contra hegemônico nessa indústria cultural.

PARADA DO ORGULHO LGBT : PRATA 
Acho que a Parada deveria ser reformulada. Não digo perder a festa, o carnaval, pois a alegria é importante. Mas que de tempo em tempo houvesse a lembrança do real motivo daquela grande mobilização. Precisamos pensar em estratégias, a partir das novas tecnologias, da juventude, de como ser político sem ser chato. Sem tirar a festa, como que fosse proibido falar de política e dançar e dar pinta ao mesmo tempo. Somos gays, somos criativos, temos que inventar uma nova forma. Boal dizia que estamos condenados a criatividade.


LIVRO NADA MAIS DO QUE ISSO: OURO
(risos). Como falar mal de um filho, rsrsrs. Eu tenho um carinho especial por essa obra, pois tem muito de mim e das pessoas que amo. Muitas situações aconteceram na realidade, não da forma que descrevo, mas tem um fundo de verdade. E a ideia de fazer o livro foi realmente para que servisse de instrumento para que os jovens pudessem se fortalecer e se identificar. Confira o livro no Facebook AQUI.

JEAN WYLLYS: OURO
Precisamos de mais Jeans Wyllys em nossa política. Que não lute só por uma causa, mas contra toda injustiça.




FICAR NO ARMÁRIO: PRATA
Difícil classificar, porque depende muito do contexto. Enquanto estratégia pode ser uma saída contra a violência e a discriminação. Eu também já me escondi embaixo de um chapéu em uma manifestação, para minha família não me reconhecer nas fotos do Jornal. Como podemos dizer para um jovem de dezessete anos pra se declarar homossexual? Quem vai apoiá-lo? O problema é quando o armário se transforma em prisão ou em arma contra outros gays. Cada um precisa descobrir a melhor forma e momento de sair do armário, porque lá dentro é escuro e o mundo aqui fora é muito mais divertido.


NOVAS FAMÍLIAS: OURO 
Mundo novo, novas famílias, novas tecnologias, nova forma de ver e se relacionar com a realidade. O mundo muda e novas maneiras de lidar com essas mudanças são necessárias.


HOMOLESBOTRANSFOBIA: LATA 
Qualquer tipo de preconceito deve ser rechaçado fortemente, pois é o início da violência e assassinatos. Não podemos mais aceitar sermos tolerados. Precisamos de direitos e respeito. Isso a partir das leis que protejam os LGBT.

HETERONORMATIVIDADE: LATA 
É essa mesma heteronormatividade que gera o machismo, a violência contra as mulheres, homens frustrados, porque não conseguem ser o macho alfa, mulheres que não sentem orgasmo, meninos que não gostam de dançar ou da cor rosa. Isso nós aprendemos desde criança. Por isso é que a sociedade precisa se repensar desde as estruturas mais arcaicas, que dizem ser imóveis. Nós, seres humanos, é que criamos os costumes, a cultura. Nós somos os únicos que podemos transformá-las.


VIOLÊNCIA NO RIO DE JANEIRO: LATA
Violência é ruim em qualquer lugar. O problema do Rio é que é uma cidade que se camufla de democrática e receptiva, mas é extremamente separatista, desigual e preconceituosa.


RESULTADO DAS ELEIÇÕES 2014: PRATA 
Seria ouro se tivéssemos mais possibilidades de escolha. Mas antes a Prata do que a Lata, não é? Risos


COTAS RACIAIS: OURO 
No Brasil as pessoas não nascem com as mesmas oportunidades de crescimento. Injusto pensarmos em meritocracia quando há tanta desigualdade social, desde a invasão do Brasil pelos portugueses. O Brasil foi construído com políticas racistas, excludentes e nunca questionou-se isso. Por que questionam as cotas? Porque não beneficia a classe dominante, simples!

TV ABERTA: PRATA
Olha é difícil, mas se você garimpar ainda encontra coisa interessante, engraçada pelo menos. Até porque a TV fechada não é nada muito diferente. Filmes norte americanos, reforçando uma hegemonia estadunidense, quase todos os canais pertencem a Rede Globo. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come...
  
MILITÂNCIAS: OURO 
Acho a militância um ato muito sincero. Ninguém milita por algo que não acredita. E há diferentes formas de militar. Eu me sinto um militante do movimento LGBT, quando escrevo livros, critico a Parada, converso com um jovem gay que ele não está doente ou errado. Temos que ampliar nossa visão de militância.


ENSINO PÚBLICO: PRATA 
Não posso dizer que é lata por consideração aos professores que estão tentando manter a educação brasileira. E me incluo. Escolas sem nenhuma estrutura, professores com PÉSSIMOS salários, sem nenhuma expectativa de crescimento profissional, alunos sem nenhuma condição de aprendizado. O professor precisar ser psicólogo, enfermeiro, pai, mãe e juiz. Dizem que o Brasil precisa de um plano educacional. Eu digo que o Brasil já tem um plano e está colocando em ação desde a ditadura militar. Está funcionando, pois você pode encontrar um estudante analfabeto que chega a faculdade. Mas isso é na classe pobre, pois os ricos continuam no São Bento, Santo Inácio...

CANTOR LOBÃO: LATA 
Gosto das músicas dele, mas suas ideias, sinceramente... Poderia realmente sair do Brasil e levar vários na mala, como o Malafaia, Bolsonáro, Crivela, Pezão, Garotinho, Eduardo Paes. A mala tinha que ser bemmm grande, rsrsrs.


MENOR IDADE PENAL: LATA 
Nossas cadeias não reeducam ninguém. Na verdade nossa população não é educada, então nem podemos falar de reeducação.  E novamente serão os filhos das mulheres e homens negras e pobres que vão lotar as cadeias. Os filhos da classe dominante vão continuar traficando Êxtase, LSD, mas ganham uma viagem pra Disney para desanuviar a cabeça. O pior é ouvir muita gente pobre e negra que repete esses projetos, como se isso fosse trazer tranquilidade para a população. O opressor entra em nossa cabeça de tanto sermos oprimidos e começamos a admirar esse opressor. Repetimos suas palavras sem consciência política e crítica.


PENA DE MORTE: LATA 
Novamente seriam os negros, pobres e ferrados que iriam pagar o pato.



BRASIL: OURO 
É ouro porque acredito que o Brasil é um país que pode crescer muito. Tem um povo que é a mistura de vários povos. Isso é lindo. É enorme, com variedade cultural, de comida, músicas, danças... Mas como falei antes fomos construídos a partir de desigualdade, de exploração, de vergonhas, de roubos... Pra essa história mudar temos que arregaçar as mangas e cada um fazer sua parte. Criticar e cobrar do governo, mas também não burlar a lei seca, não dar o café do policial, não aceitar a corrupção como algo natural.  Boal dizia que ser cidadão não é viver em sociedade, mas transformá-la. Vamos mudar o Brasil!

Fotos: Acervo do CTO (Centro de Teatro do Oprimido) e Arquivo Pessoal

Por: Marcello Taurino

Marcello Taurino (do signo de touro) é técnico em contabilidade e iniciou sua carreira artística nos anos 90. É ator performer, audiomaker, videomaker, ativista/militante LGBT, dançarino e aderecista, entre outras aptidões.

 
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